Scientists for Future Portugal

Carta

Em seguida apresentamos uma tradução livre da Carta Internacional "The Concerns of the Young Climate Protesters are Justified". As referências que suportam o texto podem ser consultadas no artigo da revista Science em que a carta foi originalmente publicada.

Artigo na revista Science: "Concerns of young protesters are justified", Science 12 Apr 2019: Vol. 364, Issue 6436, pp. 139-140, DOI: 10.1126/science.aax3807

As preocupações dos jovens manifestantes são justificadas (*)

A juventude mundial tem vindo a manifestar-se de forma persistente pela necessidade de acção imediata e determinada por parte dos decisores políticos para enfrentarmos a situação de emergência que vivemos, especificamente no que diz respeito às alterações climáticas e ao eminente colapso dos ecossistemas. Como cientistas e académicos de todas as disciplinas e do mundo inteiro, declaramos que as suas preocupações são justificadas e suportadas pela melhor ciência disponível. Mais, as medidas actuais para protecção do clima e da biosfera são francamente inadequadas e insuficientes.

Praticamente todos os países assinaram e ratificaram o "Acordo de Paris", comprometendo-se à luz da lei internacional em manter o aquecimento global bem abaixo dos 2°C acima dos níveis pré-industriais, e em perseguir esforços para limitar o aumento de temperatura a 1.5°C. A comunidade científica concluiu claramente que um aquecimento global de 2°C em vez de 1.5°C aumentaria substancialmente os impactos relacionados com o clima e o risco de se tornar irreversível. Além disso, dada a distribuição desigual da maioria dos impactos, um aquecimento de 2°C exacerbaria as desigualdades globais existentes.

É crítico começar imediatamente a redução rápida de CO2 e outros gases de efeito de estufa. A gravidade da crise climática que a humanidade vai vivenciar no futuro será determinada pelas nossas emissões cumulativas; uma redução rápida agora limitará os estragos. Por exemplo, o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) avaliou recentemente que cortar para metade as emissões de CO2 até 2030 (relativamente aos níveis de 2010), e atingir globalmente a neutralidade de emissões até 2050 (acompanhada de uma forte redução de outros gases que provocam o efeito de estufa) permitiria uma hipótese de 50% de nos manter abaixo dos 1.5°C de aquecimento. Os países industrializados, por terem produzido e beneficiado mais de emissões anteriores, têm uma responsabilidade ética de conseguir esta transição mais rapidamente do que o resto do mundo.

Existem já muitas soluções sociais, tecnológicas e baseadas na natureza para os problemas em causa. Os jovens activistas exigem com razão que estas soluções sejam usadas para atingir uma sociedade sustentável. Sem acção corajosa e focada, o seu futuro encontra-se em perigo crítico. Não há tempo para esperar que cheguem ao poder. Os políticos actuais têm a enorme responsabilidade de criar atempadamente as condições e o enquadramento para estas mudanças. São necessárias políticas para tornar a acção pró-climática e sustentável simples e lucrativa e, simultaneamente, a acção anti-climática ou não sustentável desinteressante e dispendiosa. Exemplos incluem custos e regulamentações eficazes para as emissões de CO2; fim de subsídios para acções e produtos que prejudicam o clima; standards de eficiência; inovações sociais; e investimento massivo e dirigido para infraestruturas de energias renováveis, infraestruturas de transportes públicos, redução do consumo e recuperação de ecossistemas. Uma distribuição socialmente justa dos custos e benefícios da acção climática irá requerer atenção deliberada, mas é simultaneamente possível e essencial.

A enorme mobilização de base do movimento climático -- conhecido por diversas designações, e.g., Fridays for Future, School (or Youth) Strike 4 Climate, Youth for (or 4) Climate, Youth Climate Strike (*) -- mostra que os jovens compreendem a situação e as graves implicações que tem para as gerações futuras. Concordamos e apoiamos as suas exigências de acção rápida e determinada. É nossa responsabilidade social, ética, e académica, declarar inequivocamente: Apenas se a humanidade agir rápida e resolutamente conseguiremos limitar o aquecimento global, parar a extinção em massa em curso, e preservar a base natural para o abastecimento alimentar e bem-estar de gerações presentes e futuras. Isto é o que os jovens pretendem atingir. Eles merecem o nosso respeito e total apoio.

Autores:  Gregor Hagedorn, Peter Kalmus, Michael Mann, Sara Vicca, Joke Van den Berge, Jean-Pascal van Ypersele, Dominique Bourg, Jan Rotmans, Roope Kaaronen, Stefan Rahmstorf, Helga Kromp-Kolb, Gottfried Kirchengast, Reto Knutti, Sonia I. Seneviratne, Philippe Thalmann, Raven Cretney, Alison Green, Kevin Anderson, Martin Hedberg, Douglas Nilsson, Amita Kuttner, Katharine Hayhoe

(*) Greve Climática Estudantil, em Portugal

Assinar a Carta